Mesmo com reajuste da corrida feita pelos aplicativos, motoristas escolhem as viagens para economizar combustível

Motoristas argumentam que o aumento das taxas de repasse de valor feito pelos aplicativos Uber e 99, ainda não é suficiente para arcar com o preço da gasolina, a manutenção do carro e as contas de casa. Imgem: internet.




Com a alta no preço do combustível e o aumento do preço da manutenção de veículos, motoristas que trabalham para aplicativos alegam que mesmo com o reajuste das corridas feito pelos aplicativos, estão optando por corridas mais vantajosas para economizar e lucrar mais.


O preço médio da gasolina subiu pela 7ª semana nos postos do país, de acordo com levantamento realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) com alta de R$ 6,076 por litro, contra R$ 6,059 por litro na semana anterior, o que representa uma alta de 0,28%.


Neste mês, em São Paulo, o ganho das viagens para motoristas com a modalidade UberX - a mais popular- foi reajustado em até 35% sem aumento para o consumidor. Já a 99 informou que vai aumentar o ganho dos motoristas entre 10% e 25%.


Edimilson Bispo dos Santos, de 43 anos, trabalha para aplicativos há 5 anos e o transporte de aplicativo é sua única fonte de renda. Ele diz que não sentiu a diferença do reajuste.


"As empresas disseram que aumentaram a taxa para tornar a corrida mais vantajosa, mas não sentimos essa diferença. A mesma viagem com a mesma quilometragem fica no mesmo valor de antigamente".


Marcelo Gomes, de 47 anos, que faz corridas desde 2018 disse que o reajuste nos valores voltou ao mesmo valor que era pago aos motoristas antes da pandemia. "A Uber abaixou esse valor mínimo e reajustou ao valor anterior da pandemia, não teve aumento de taxa, só reajustou os valores, aproveitando que aumentou a demanda". Ele também parou de correr para a 99 por conta de problemas no aplicativo.


"Estamos reivindicando um aumento justo, uma tarifa mínima justa de pelo menos R$ 10. Ganhamos em uma corrida mínima entre R$ 5,25 e R$ 5,40, menos do que o preço da gasolina, vários motoristas estão desistindo por causa disso, só não desisti porque ainda não encontrei nenhum trabalho".


A 99 informou que o cálculo para o repasse utiliza uma equação que leva em conta a distância percorrida e o tempo de deslocamento. Com um teto máximo nacional de 30% de desconto e "que a eventual redução para os passageiros não são retirada dos motoristas".


A Uber não detalhou como o aumento do valor repassado para os motoristas será absorvido pela empresa de forma a evitar uma alta no preço da viagem para o passageiro.


Sobre o impacto do aumento da gasolina no gasto dos motoristas parceiros, a 99 informou que oferece um desconto de 10% em todos os postos da rede Shell do país, com pagamento feito via Cartão99. (veja a nota completa no final da reportagem)


'Se aumentar mais, profissão acaba': alta dos combustíveis já levou 25% dos motoristas de apps a desistir.


Já a Uber informou que está "intensificando esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos, com parcerias que oferecem desconto em combustíveis, por exemplo, assim como tem feito revisões e reajustado os ganhos dos parceiros, em diversas cidades, além de lançar promoções com ganhos adicionais em viagens de curta distância". (veja a nota completa no final da reportagem)


Por que a demora para conseguir uma corrida?

Os motoristas ouvidos pelo g1 explicaram que por conta da alta no preço do combustível estão optando por corridas mais longas e vantajosas.


Nesta quarta-feira (22), às 21h g1 tentou solicitar uma corrida da Zona Sul para a Zona Oeste, e somente após sete desistências e 40 minutos conseguiu um carro.


Desde o mês de agosto, usuários estão enfrentando dificuldades para conseguir corridas.


“Estamos escolhendo corridas que dão mais lucro. Normalmente, as mais longas são mais rentáveis, isso se não tiver trânsito. Uma corrida longa e com trânsito também não é vantajosa porque gastamos mais combustível", afirma Marcelo Gomes.


"Ainda assim, estamos tirando leite de pedra, não se ganha como antes trabalhando com aplicativos", continua.


Edimilson Bispo contou que está evitando realizar corridas pela 99. "Elas são mais complicadas de realizar. O aplicativo sempre me joga para corridas distantes do lugar onde estava, com isso gasto mais gasolina. Trabalho cerca de 12 horas por dia. Para ganhar dinheiro tem que ser assim. Então estou fazendo de tudo para economizar".


Ele conta que evita trabalhar durante a manhã e na região do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, por conta do trânsito e assim economiza ainda mais combustível. "Antes, colocávamos cerca de R$ 60 e dava para rodar o dia todo, hoje não dura nem 6 horas. Em Guarulhos antigamente era ótimo porque tinha muita solicitação de corrida com valores altos, hoje passamos muito tempo no trânsito, então evito a região".


De volta para o trabalho formal

Tanto Marcelo quanto Edimilson disseram que voltaram a procurar emprego, ambos tem os aplicativos de como a única renda, no entanto, com o valor recebido não é possível arcar com todas as despesas de casa.


"Quando comecei, o aplicativo dava uma boa grana, valia a pena. Hoje o que faço em 12 horas conseguiria em 8 horas antigamente. Apesar de temos mais passageiros, o ganho é muito menor. Ainda estou trabalhando, mas estou procurando outras opções para pagar minhas contas”, afirma Marcelo.

"Tudo aumentou, lá em casa sou eu, minha esposa, dois filhos e meus pais. Imagina os gastos, estamos tentando economizar em tudo, controlando os gastos em tudo para não ficar no aperto. Por enquanto, continuo realizando corridas, mas estou procurando um outro emprego", afirma Edimilson.


O que diz a Uber

"A Uber opera um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível, por isso buscamos sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade econômica dos consumidores, tendo em vista a preservação do equilíbrio oferta-demanda que é fundamental para a plataforma.


Se nos meses iniciais da pandemia a demanda caiu abruptamente devido às orientações de isolamento social, agora pessoas que antes não usavam a Uber no dia a dia passaram a optar pelo app. Diversas pesquisas, como do Datafolha, mostram essa mudança de comportamento dos brasileiros por considerarem os apps de mobilidade mais seguros para se locomover e evitar aglomerações. Esse cenário de demanda crescente por viagens vem se acentuando ainda mais com o avanço da vacinação e a reabertura progressiva de atividades pelas autoridades.


Nesse sentido, os usuários estão tendo que esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há momentos em que há mais solicitações do que motoristas parceiros disponíveis para atendê-las. Com esse desequilíbrio temporário do mercado, também podem ocorrer com mais frequência tanto cancelamentos pelo usuário (que não deseja esperar mais tempo pela viagem) quanto recusa de viagens pelo motorista (que, pelo cenário de demanda em alta, pode presumir que haverá novos chamados de maior ganho na sequência, por exemplo).



A Uber vem implementando iniciativas adicionais que buscam promover o reequilíbrio do mercado no curto e no longo prazo. Nos momentos de desequilíbrio localizado, o mecanismo de preço dinâmico entra em vigor automaticamente. A ferramenta é eficiente porque, por um lado, faz alguns usuários adiarem a viagem à espera de um preço menor e, por outro, aumenta os ganhos dos motoristas para incentivar que mais parceiros se desloquem para atender aquela região. O preço dinâmico é temporário e atualizado constantemente, por isso a dica para os usuários é esperar algum tempo antes de verificar o preço novamente no app.


Já frente ao cenário de aumento da demanda mais rápido do que o aumento de parceiros, a Uber tem reforçado campanhas de indicação, nas quais motoristas que já dirigem com a plataforma ganham uma recompensa quando novos parceiros indicados realizam certo número de viagens. Os critérios das promoções variam de cidade para cidade: em São Paulo, por exemplo, uma indicação concluída pode resultar em recompensa de até R$ 750. Outra iniciativa é o programa Uber Mentores, recentemente lançado, em que motoristas que usam a plataforma há mais tempo compartilham suas dicas com quem está começando.


A demanda em alta faz deste um bom momento para dirigir com o app da Uber. Os ganhos dos motoristas parceiros nas últimas semanas têm sido os maiores desde o início do ano - em São Paulo, por exemplo, quem dirige por volta de 40 horas tem ganhado, em média, de R$ 1.300 a R$ 1.400 na semana. É importante lembrar que os ganhos na plataforma da Uber são bem particulares para cada motorista parceiro, já que há diversas variáveis para serem levadas em conta. Além disso, como os parceiros têm liberdade para decidir em quais dias e horários preferem dirigir, quem concentra a atividade no app em dias e horários de maior movimento tem maior probabilidade de realizar mais viagens e ganhar mais.


Com o aumento constante dos combustíveis, a Uber também vem intensificando esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos, com parcerias que oferecem desconto em combustíveis, por exemplo, assim como tem feito revisões e reajustado os ganhos dos parceiros, em diversas cidades, além de lançar promoções com ganhos adicionais em viagens de curta distância".


O que diz a 99

"A 99 atua para reduzir o impacto gerado pela conjuntura econômica que vem pressionando o valor dos combustíveis e busca oferecer um transporte eficiente e acessível, tanto que reajustou, há duas semanas, os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25% - a plataforma está subsidiando esse aumento. Além disso, lançou um pacote de ações que prevê, entre outras iniciativas, o repasse integral do valor da corrida aos parceiros em localidades e horários específicos. Outra medida é o desconto de 10% em todos os postos da rede Shell do país, com pagamento feito via Cartão99, o que já gerou uma economia de R$ 5 milhões.


Em relação à taxa de transferência para os parceiras praticada na plataforma, a 99 esclarece que o cálculo para o repasse utiliza uma equação que leva em conta a distância percorrida e o tempo de deslocamento. É importante observar que há um teto máximo nacional de 30% de desconto e que a eventual redução para os passageiros não são retirada dos motoristas. O objetivo é garantir que os motoristas parceiros sempre tenham ganho nos serviços prestados. Neste sentido, há casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista é maior que o pago pelo passageiro e esta diferença é custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas. Os motoristas parceiros podem checar os detalhes dos seus ganhos por viagem no próprio aplicativo ou em páginas online de suas respectivas cidades, como neste exemplo de São Paulo: https://motoristas.99app.com/ganhos-sp/.


Já para os passageiros, a empresa lançou o Economiza99 em que o usuário pode comprar um pacote de descontos para as próximas 15 corridas. O pacote custa entre R$1 e R$2,99 e concede desconto de 10% (limitado a R$ 10) nas próximas 15 corridas do passageiro, gerando uma economia de até R$ 150. Os descontos não impactam os ganhos dos motoristas parceiros, pois são subsidiados pela companhia.


A empresa esclarece, ainda, que não registrou redução no número de motoristas parceiros e vem registrando maior demanda, especialmente nos horários de pico. Segundo o Datafolha, com a pandemia, 40% das pessoas da classe C passaram a fazer mais uso de carros por aplicativo e 31% começaram a solicitar corridas. Somado a isso, há um número significativo de passageiros das classes A e B que voltaram a se locomover pela cidade com a flexibilização das regras de isolamento social. Isso pode acarretar uma demora em alguns horários e aumento do valor, uma vez que a tarifa dos passageiros é calculada a partir de uma equação que envolve oferta e demanda".



Da Redalção com G1

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