Nova espécie de dinossauro do Brasil homenageia 'deus do sexo' guarani

Ele foi encontrado próximo ao município de Monte Alto, norte do estado de São Paulo, na área conhecida como Formação Marília.

O fóssil pode representar um dos últimos dinossauros brasileiros que viveram por estas terras antes da sua extinção no final do Cretáceo (Foto: Reprodução)


O Brasil acaba de ganhar uma nova espécie de dinossauro carnívoro: o Kurupi itaata, um terópode com porte médio (cerca de 5 metros de comprimento). Ele foi encontrado próximo ao município de Monte Alto, norte do estado de São Paulo, na área conhecida como Formação Marília.


De acordo com a Folha de São Paulo, o achado representa o quarto réptil da família dos abelissaurídeos descritos para o Brasil, parentes distantes do famoso Tyranossaurus rex. 

 

O fóssil pode representar um dos últimos dinossauros brasileiros que viveram por estas terras antes da sua extinção no final do Cretáceo, há 66 milhões de anos. A rocha onde o Kurupi foi achado possui idade aproximada de 70 milhões de anos.


Os pesquisadores Fabiano Iori e Sandra Tavares (do Museu de Paleontologia de Monte Alto - SP), Hermínio Ismael de Araújo-Júnior (da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Thiago Marinho (da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba - MG) e Agustín Martinelli (do Museu Argentino de Ciências Naturais, em Buenos Aires), descreveram o novo dino. O trabalho foi publicado na revista científica Journal of South American Earth Sciences.


O Kurupi itaata devia possuir braços muito diminutos, quase vestigiais. A principal característica que diferencia a espécie dos demais terópodes encontrados na América do Sul é a presença de pequenas projeções em forma de triângulo nas “asas” das vértebras, estruturas laterais que conectam as vértebras às outras, possivelmente associadas à área de ligação com a musculatura.


O nome do gênero, kurupi, homenageia o deus da sexualidade guarani, enquanto o epíteto específico “itaata” faz referência ao tipo de rocha em que o animal foi encontrado, que é muito dura (“pedra dura” em tupi).


Mas seria isso pelo poder de sedução do Kurupi? Fabiano Iori, primeiro autor do estudo, explica que, por ter sido encontrado próximo a um motel em Monte Alto, a equipe se referiu por anos ao fóssil como o “dino do motel”.


A escolha, apesar de ter sido aprovada por muitos colegas, não deixou contentes todos do meio paleontológico. Alguns não acharam graça na relação, ele reconhece.


“Mas nós ainda temos o sonho de encontrar material craniano, e como alguns estudos mostram que esses animais tinham o crânio bastante vascularizado, possivelmente com características de display sexual, o nome pode ainda ganhar esse segundo significado”, prevê.

 

Apesar de ser um dos mais importantes sítios paleontológicos do período Cretáceo no país, que compreende a fase final (entre 145 e 66 milhões de anos) da chamada Era dos Dinossauros (Mesozóica), na bacia Bauru foram achados principalmente fósseis mais antigos, do início do Cretáceo. Há poucos animais descritos para o período conhecido como Maastrichtiano, que é o final do Cretáceo.


De acordo com Iori, o Kurupi itaata é fruto de um trabalho de quase três décadas de escavações na região. Isso porque, diferente da outra formação que faz parte do grupo Bauru, a Adamantina, que já resultou na descoberta de diversos fósseis de dinossauros e outros vertebrados no passado, incluindo crocodilomorfos, a Formação Marília, um pouco mais recente, é de um tipo de rocha de difícil erosão.


A análise filogenética do fóssil não conseguiu determinar qual seria a espécie mais proximamente relacionada justamente devido ao teor fragmentário do material. Dentro dos abelissaurídeos, porém, o Kurupi itaata, até mesmo por ter uma idade mais recente, está mais próximo de outro dinossauro carnívoro brasileiro, o Pycnonemosaurus nevesi, encontrado em rochas no estado do Mato Grosso.


Outro abelissauro de grande importância para a história evolutiva do início do período Cretáceo onde hoje é o Brasil é o diminuto Spectrovenator ragei, descoberto próximo ao município Coração de Jesus (MG). A análise mais minuciosa do dinossauro revela ainda que os ossos provavelmente ficaram expostos por um período antes de se fossilizarem .


Da Redaçõ com Folha de São Paulo

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